quarta-feira, 14 de outubro de 2009

15 - Ondas Azuis

cont...
Cirurgia: As principais cirurgias para Doença de Parkinson são: a palidotomia, a talamotomia, a neuroestimulação que vem, aliás, se destacando por sua constante evolução científica e tecnológica. Finalmente, há uma grande expectativa criada pelo “Novo método de Estimulação na Coluna (que) pode se transformar em uma alternativa mais barata e menos invasiva para tratar a doença de Parkinson, segundo estudo que contou com a participação do brasileiro Miguel Nicolelis, neurocientista da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (RN).

Nesta que é a penúltima Onda, sentindo-se sem autoridade para falar sobre cirurgia na Doença de Parkinson, Lia se sente estimulada a expor sua própria cirurgia. É que para ela o todo foi tão inusitado que ao se lembrar daquele ambiente de ficção científica e do êxito da cirurgia ela prefere contar, com humor, por que e como ela fez a palidotomia

Como dito acima ela se consultou com um neurocirurgião e perguntou-lhe da possibilidade de se submeter a uma cirurgia. Ele respondeu que ainda não era o caso, porque Lia era ainda muito jovem e aconselhava ajustes na dosagem de sua medicação. Feito o ajuste Lia volta para Fortaleza.

Quatro meses depois ei-la de volta a São Paulo com o mesmo problema: discinesia provocada pela DIL – Discinesia Induzida pela Levodopa. O médico tirou a levodopa, mas não se sabe por que os movimentos involuntários continuavam muito fortes. O organismo de Lia passou a rejeitar qualquer medicação e a rigidez aumentava visivelmente. O médico concluiu: se lhe dou medicamentos você trava, se os tiro você trava. Acho que agora é hora da cirurgia.

Era o que Lia esperava. Mesmo depois de informada dos riscos que uma cirurgia como a palidotomia apresenta, por exemplo, anormalidades da fala, da deglutição e da cognição, ou melhora nenhuma, como ocorre em muitos casos, Lia não vacilou, não se deteve. Estava decidida e para ela a cirurgia significava deixar o palco das marionetes e voltar a vida normal.

Lia se acha uma mulher de sorte. Naquele momento, sem dúvida, o mais importante de toda sua vida, ela pôde contar com a solidariedade, generosidade e o otimismo contagiante da amiga Márcia Meireles que apoiou sua decisão e a acompanhou desde a visita ao médico, passando pela realização de uma série de exames até o pós-operatório.

A bateria de exames incluía a tomografia, raio-X do pulmão, diversos exames de sangue e outros. Um check-up completo.

Lia foi internada no Hospital do Ipiranga, onde permaneceu durante oito dias, para o pré-operatório, fazendo os últimos exames e teve seu momento de Joana D’Arc – sem as luzes de Carl T Dreyer – deixaram-na carequinha. Nenhuma importância à vaidade. Era só esperança.

No dia da cirurgia, Marcinha veio buscá-la no Hospital do Ipiranga às 5hrs e foram para o Hospital das Clínicas onde foi realizada a cirurgia. Lia dizia que confiava – e era melhor confiar mesmo – nas mãos do Dr Manuel e de sua equipe. Eu sei que vai dar certo, ela repetia.

Ás 6hr da manhã Lia entrou na sala de preparação para a cirurgia. Ali, um dos médicos colocou em sua cabeça o aparelho estereotáxico que, para ela, no fim do século 20, da física quântica, visão holística, laser, refinamento tecnológico, esse aparato parecia mais uma ferramenta da Idade da Pedra. (Você pode comprovar os exemplos de aparelhos estereotáxicos para uso em humanos, no Google)

A melhora das molduras estereotáxicas adaptadas para uso com Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética levaram à era da neurocirurgia guiada por imagens.

Era uma coroa (um arco)com parafusos no lugar dos espinhos. Embora mais moderno, o aparato estereotáxico usado por ela até podia ter moldura melhorada, mas a dor causada pelos odiosos parafusos era tão odiosa quanto. Deusas, suplicava Lia, me poupe dessa dor. - Mas tem que aguentar, daqui a pouco virá a anestesia, disse-lhe o médico que instalou o aparelho em sua cabeça.

Meia hora depois ela foi levada para a sala de cirurgia. Uma equipe médica a esperava e ela levando na brincadeira disse a eles.

- Por favor, tirem isto da minha cabeça. Já entendi o que Cristo passou com aquela coroa de espinhos. Esses parafusos são meus espinhos. Veio a anestesia local e a dor imediatamente passou.

Lia continua - depois de umas agulhadas me senti um pedaço de asfalto, com uma broca sinistra abrindo um buraco na minha cabeça, em movimentos rotativos.

Logo que soube que havia na equipe um médico neurologista colombiano e um cubano, a fim de descontrair, distender sua ansiedade, Lia perguntou para o cubano se ele não queria comprar uma camiseta do Che Guevara com a seguinte frase: Hay que endurecerse pero sin jamás olvidar el condón.

- Todos, ou quase todos, riram e eu consegui afastar a paúra que estava começando a sentir, conta Lia.

- Ora, não era para menos: primeiro, tosam meus cabelos, depois colocam um aparelho estranho que ‘amarrota’ minha cabeça, em seguida abrem um buraco nela com uma broca, minha coragem quase foi para o brejo.

- Finalmente chegamos às vias de fato. Voltamos a era atual. Alta tecnologia, laser, cada um dos 6 médicos tomaram seus lugares. O bruxo mor apareceu e deu início à cirurgia. Dois ou três médicos e estagiários operavam os computadores. Como a cirurgia é realizada com o paciente acordado, me senti fazendo parte de um filme de ficção científica, ainda mais porque a todo momento era solicitada a confirmar a atividade funcional de cada um dos sentidos.

- Era um tal de levante a mão direita, agora o braço esquerdo, está me ouvindo? Como é seu nome? Você sabe onde está? Num determinado momento o cirurgião me disse: agora vamos apagar as luzes (que já eram poucas) e você deve dizer o que viu. Na primeira vez não vi nada, mas na segunda vez eu achei o máximo e gritei: Ondas Azuis, estou vendo ondas azuis, ondas azuis.

- Sedaram-me imediatamente após essa minha manifestação...

cont...

Um comentário:

  1. Ainda não tinha lido essa parte... tava com problemas no micro de casa e sabe como é que é, né? Casa de ferreiro, espeto de pau... nem um notebook o irresponsável aqui tem como reserva... acho que é porque já 'enchi o saco'! Já bastam as 7 h diárias obrigatórias na frente da telinha luminosa mágica... Sim, mas por que falo tanto de mim? O comentário deveria ser sobre a tua postagem... Vou comentar então: Putz! Sabe como num filme? Foi assim que me senti. "Michaelijacsamentetrillado" Ah falta que me fazem os papos contigo! Tenho me sentido mais pobre, como pessoa... Um grande beijo... Sigamos em frente rumo ao nobel de literatura... menos que isso, é injustiça! rs Um grande beijo! Caique

    ResponderExcluir