quinta-feira, 28 de maio de 2009

3 - Ondas Azuis

Cont...

Lia recebeu o diagnóstico de Doença de Parkinson em agosto de 1995 – apenas 15 dias após a morte de sua mãe. Um baque desmedido. A perda repentina da mãe, a sensação do definitivo que a morte provoca é uma dor imensurável, atroz. Com o tempo a vida vai trocando o curativo da ferida e a dor se abranda, mas é indelével.

Não é raro pacientes apresentarem sinais e sintomas da doença após um evento fortemente negativo. Este pode ter sido o caso de Lia, a morte da mãe pode ter precipitado o aparecimento desses sinais e sintomas. Ontem, a perda definitiva da mãe. Hoje sua saúde definitivamente comprometida. Uma sensação de perda obstruía seu otimismo e fé na vida.

Lia chegou à casa triste e cabisbaixa, sua faxineira perguntou o que estava acontecendo, ela contou por alto e a faxineira: ora dona Lia, Deus dá o frio conforme o cobertor, ao que ela respondeu: não se trata de frio, mas de calafrio mesmo e haja cobertor.

O neurologista francês Jean-Martin Charcot (1825-1893) realizou a mais importante de todas as contribuições científicas no estudo da Doença de Parkinson, após a descrição de James Parkinson. Mundialmente conhecido como o “pai da Neurologia”. Charcot acrescentou observações pessoais na definição do quadro clínico, apontando a presença dos chamados quatro sinais cardinais da doença: tremor, lentidão do movimento (bradicinesia), rigidez e dificuldades do equilíbrio, apresentando critérios para o diagnóstico diferencial.

Lia, nesta época, estava dirigindo um bar noturno com espaço para exposição de artes plásticas, sebo, palco para teatro, performances, shows, além de um cardápio extenso. Muito trabalho.
Revisou: Caíque Rodrigues

sexta-feira, 22 de maio de 2009

2. Ondas Azuis

Cont...

Nada, nada de fisioterapia, de massagens, de acumpuntura, hidromassagem. Isso só alivia, disse o médico. Mas não cura.
A notar: não faz muito tempo que os médicos, em geral, recomendam fisioterapia para seus pacientes.

De repente, em meio ao trânsito, Lia deu o grito que mantinha calado desde que saíra do hospital; na cabeça confusa as palavras do médico – doença crônica, progressiva, degenerativa, incurável se misturava às da receita prescrita: levodopa, carboidopa, seligilina, e se avolumavam, em cascata, numa linguagem totalmente desconhecida para ela.

O nada consta da tomografia que o médico havia solicitado – lhe deu esperanças de que não era nada grave – só fez confirmar o diagnóstico. Não existem exames, nem testes, que comprovem a Doença de Parkinson. ‘O veredicto é baseado na observação’. Os médicos só pedem a tomografia a fim de confirmar a não existência de outras patologias.

Entretanto, a micrografia, ou seja, a diminuição do volume da letra e do tamanho da caligrafia é um dos principais e irredutíveis sintomas da doença. Lia ficou surpresa com a diferença de sua própria caligrafia antes e depois de dois dias de doses baixas de levodopa, o que confirmou a suspeita do médico: era realmente Doença de Parkinson – DP

Doença mais conhecida como Mal de Parkinson foi definida como ‘paralisia agitante’, pelo médico inglês, James Parkinson (1755-1824), membro do colégio real de cirurgiões, como doença caracterizada pela presença de movimentos involuntários tremulantes, diminuição da força muscular, com tendência para a inclinação do tronco para frente e alteração da marcha (festinação), sem, entretanto, afetar os sentidos e o intelecto.Cont...
Revisou: Caíque Rodrigues

terça-feira, 12 de maio de 2009

1. Ondas azuis

Manteve a elegância por ignorância diante de um peremptório diagnóstico de Doença de Parkinson. Doença crônica, progressiva, degenerativa e incurável, -disse o médico. Aos 42 anos nunca tinha sequer ouvido falar nessa patologia e não conhecia ninguém com este Mal. Assustada, ao sair do consultório do médico, ficou um bom tempo dentro do carro sem coragem de dar partida, até que se lembrou que tinha muita coisa para fazer e – a vida continua – resolveu voltar para casa.

Afinal tudo que ela sentia era o arrastar da perna direita, uma dor incômoda nas pernas e cansaço logo que começava alguma atividade. E pensar que havia consultado dois ortopedistas em São Paulo. Um afirmou que era reumatismo e outro que era porque seu pé direito estava torto e recomendou palmilhas. Seus primeiros erros médico; outros viriam.

O neurologista havia dito que quando a doença se manifesta a pessoa já perdeu, pelo menos, 70% desses neurônios fabricantes da tal dopamina.

Rindo de si mesma calculou que já estava perdendo neurônios desde quando participava de passeatas e eventos dos movimentos sociais contra a violência à mulher, contra o racismo, contra a intolerância aos gays, quando acompanhava blocos de carnaval, quando também se vestiu de preto-impeachment e foira a Avenida Paulista(SP), quando dançava em festas, porque desde essa época se cansava logo.