sexta-feira, 3 de julho de 2009

8 - Ondas Azuis

cont...



Um dia Lia estava em casa, alguém bateu na porta, ela abriu e se deparou com uma moça de aproximadamente 30 anos se torcendo toda, tremendo, completamente sem equilíbrio; parecia, alguém já disse, um daqueles bonecos de plástico de posto de gasolina. Perguntou se estava falando com a presidente da Associação. Lia pediu-lhe que entrasse. Ela veio pedir medicação e Lia lhe explicou que a APC ainda não tinha remédios para distribuir, nem amostras grátis.

–Mas me disseram que você poderia me ajudar. Eu estou há três dias sem meus remédios. Não posso voltar pra casa sem eles. Na farmácia do Hospital das Clínicas não tem e eu não tenho dinheiro para comprá-los.

Lia não sabia o que fazer, tinha um dinheiro da APC em casa, mas hesitava em usá-lo. O bom militante garante que é melhor ensinar a pescar, mas pescar demanda silêncio e equilíbrio e aquela moça sem a levodopa, e sem outras dopas para Parkinson, tremendo daquele jeito cairia no rio ou, certamente, na rua. Ela não estava disponível para regras e se lixava para valores. Ela dispensava o pão, ela precisava de remédios.

Quando Lia vencida lhe prometeu o remédio, ela disse que estava cansada e pediu para se deitar um pouco no sofá. Entregou-lhe a receita e extenuada em minutos adormeceu profundamente. Dormindo, o tremor desaparecia. Estava realmente cansada, física e psicologicamente. Ela morava longe e tinha vindo de ônibus. Posso imaginar o constrangimento durante o percurso. E admirar sua coragem de sair à rua naquele estado. Ela não merecia voltar para casa sem seus remédios.

Enquanto ligava para a farmácia e observava o sono da moça, Lia se perguntava: como serão meus próximos cinco anos? A moça dormindo parecia estar dizendo: eu sou você amanhã. Tremeu de temor.

O drama de Tereza não termina aqui. Ela apresentava um caso raro de parkinsionismo hereditário: sua mãe também era Pk e sofria com a rigidez. Mas falo disso outra hora – já é muita tristeza para o meu andadorzinho.

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